sábado, 17 de julho de 2010

Maragatos e Chimangos



Maragatos e Chimangos foram a campo enfrentar-se pela primeira vez em 11 de fevereiro de 1893, no combate do Salsinho, nos arredores de Bagé. Mas o ódio era mútuo e ancestral, fruto do confronto entre duas tendências políticas que há tempos rachava o Rio Grande. Já houve historiador que tenha se arriscado a dizer que o Estado dividia-se entre “uma Baviera liberal e uma Prússia autoritária”. Embora nem sempre seja fácil saber quem era o que naquele conflito de caudilhos, a luta entre maragatos e chimangos foi travada entre os partidários de Gaspar Silveira Martins e os seguidores de Júlio de Castilhos – e nada mais era do que um reflexo do choque entre o antigo regime monarquista e a nova ordem republicana.

Chamavam-se “Maragatos” os federalistas de Silveira Martins, partidários de um regime parlamentarista à inglesa. O apelido fora dado pelos republicanos castilhistas para insinuar que os rebeldes eram mercenários estrangeiros, pois o termo “maragato” designava imigrantes espanhóis radicados no Uruguai, oriundos da província da Maragateria. Como os maragatos julgavam-se descendentes dos berberes – porque, “como eles amavam com deleite o cavalo, a tenda e a lança” - , o pejorativo foi adotado como distintivo de honra.

Não se pode dizer que os republicanos de Castilhos – favoráveis ao regime presidencialista de cunho positivista – tenham se identificado com a alcunha que lhes imputaram os maragatos: “chimango” é uma ave comedora de carniça. A bem da verdade, durante os terríveis confrontos da Revolução Federalista de 1893 – a maior guerra civil da história do Brasil - , os chimangos eram mais conhecidos como “pica-paus”. Embora ninguém saiba ao certo a origem do apelido, ele com certeza também foi tomado como ofensa pelos castilhistas.

Evidentemente não foi a guerra de nomes, nem a de cores – os maragatos usavam lenço colorado; os chimangos ou pica-paus, divisas brancas – que alimentou o ódio mortal entre as duas facções. Mas o fato é que muito se matou e muito se morreu ao longo de dois anos pelos quais o conflito ensangüentou o pampa. Boa parte das dez mil vítimas foi morta por degola: um golpe de faca na carótida; forma rápida, silenciosa e barata de matar. Se o s chimangos degolaram antes e mais do que os maragatos – dando-lhes, além do lenço, “uma gravata colorada”, os maragatos logo decidiram que não valia a pena ”gastar pólvora com chimango”. (...)

Texto de Eduardo Bueno
Fonte: Correio do Povo - 18/09/2003

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