sexta-feira, 13 de maio de 2011

LENDAS DO MATE



Segundo uma lenda indígena, pré-colombiana, narrada através datradição oral, a origem da erva-mate (caá) é uma doação do "deus"Tupã.

I - Tupã (Deus supremo), entregou a erva-mate Caá aos feiticeiros (pagés e morubixabas), para que transmitissem seus poderes milagrosos aos filhos do grande Império Guarani.

II - Outra variante conta que um velho guerreiro guarani, impedido de ir à guerra e à caça, pelo peso dos anos, se consolava apenas com a companhia de sua jovem filha Yari.  Mas isso também lhe trazia tristezas e aflições, sabendo que Yari ficava privada das alegrias da juventude, para estar a seu lado.
Certa vez, quando sua tribo partira em busca de sobrevivência e ficando só com sua filha, apareceu-lhe um estraho guerreiro pedindo abrigo em sua jornada, dizendo vir de muito longe . . .
Então, o ancião e a filha o acolheram com respeito nobre, dando sua amizade nativa de hospitalidade.
Na manhã seguinte, o estranho viajante, agora mais amigo do que forasteiro, ao manifestar sua partida, falou, dizendo ser um enviado de Tupã.  E, dirigindo-se ao velho guerreiro, indagou:
- O que te falta, meu bom amigo?
E o ancião responde:
- Assim, como dessa afeição que nasceu entre nós, ao partires, ficarei com a recordação saudosa de tuas lembranças.  Tudo nessa vida passa e ao passar nos deixa uma saudade, preenchendo o vazio das ausências . . .  E cada vez, vamos ficando mais sós!  Dependentes da gratidão ou da pena de alguém que priva sua liberdade para suavizar nossa solidão! . . .
- Gostaria de ter um companheiro igual, no meu silêncio de recordações, cheio de paciência, sem críticas e que, juntos, pudéssemos distrair os momentos de espera na velhice!  Que me desse, sempre, a força do calor que tem a amizade das mãos amigas.
Só assim poderia descompromissar a liberdade de Yari.
O enviado de Deus ouviu com atenção as justas razões do velho guerreiro, depois disse-lhe:
- Vou de dar duas graças:
A 1ª (alcançando um ramo cheio de folhas) é esta planta que se chamacaá.  Nela encontrarás um mistér que, digno dos nobre de coração, servirá de alimento e trará vigor ao teu povo e será o amigo silencioso, sem críticas, em todos os momentos em que solicitares um companheiro.
A 2ª, de hoje em diante, tua filha será chamada de Caá-Yari (a Deusa dos ervais e dos ervateiros).
E assim o fez!
Segundo contam, Cacá-Yari (Deusa dos ervais e dos ervateiros), se revolta diante da infidelidade humana, fazendo com que os fardos de erva (caá), carregados em raídos pelos tarefeiros, se tornem pesados ao carregá-los e no momento da pesagem fiquem leves, causando prejuízos aos mesmos, porém aos quais ela dispensa a sua proteção e abençoa, os fardos são leves ao transportar, ficando pesados na pesagem.

III - Certa vez dois nativos das Américas se desentenderam e se apartaram um pra cada lado.
Um deles vivia alegre e em companhia dos demais, enquanto o outro vivia solitário e triste. 
Numa noite em sonho ele recebeu a visita de Caá-Yari (Deusa dos ervais e dos ervateiros) que se apiedou dele e lhe deu o segredo místico de uma certa bebida mágica chamada cimarrón (que os jesuítas grafaramximarrón - e que os portugueses regrafaram por chimarrão), dizendo-lhe:
- Encontrarás na bebida da infusão dessas folhas, o alimento da juventude e muita compreensão para as razões desconhecidas desta vida!
CaáYari lhe havia dado o segredo da erva-mate.

NOTA:  Existem muitas outras lendas a respeito da erva-mate, embora tenhamos nomeado apenas três das mais conhecidas.  (Glênio Fagundes)


O CHIMARRÃO
No Rio Grande do Sul, o hábito salutar de chimarrear é herança guarany; como poderemos esperar das coisas que dependem do nosso cuidado, resultados positivos que só enobreçam uma gente livre, se esquecermos de dar-lhe uma razão para existir?
Quando os padres jesuítas Roque Gonzáles, Alonzo Rodríguez e Juan Del Castillo chegaram neste Pago, por volta de 1620 - 1626, ficaram impressionados com o vigor físico dos nativos deste lugar.
Notaram que uns tinham mais mulheres que outros e atribuíram àquele costume polígamo, ao poder afrodisíaco do chimarrão - pois, os nativos passavam o dia inteiro tomando aquele chá (caá-te), numa cabaça (cuia) que em guarany se chama cahí-gua.
Decidiram proibir o chimarrão, justificando porque - o añhangá (o diabo) tinha colocado veneno mortífero naquela bebida.
Então eles recorreram ao feiticeiro e este (depois de consultar às suas divindades), lhes deu a solução: bastava cuspir o 1º sorvo por sobre o ombro esquerdo e o 2º sorvo por sobre o ombro direito; pronto, ºtodo o veneno que ali contivesse, estaria indo fora - e poderiam chimarrear sem medo. Desta forma, os jesuítas não conseguiram tirar o chimarrão dos nativos e este salutar hábito chegou até nós, inclusive a tradicional cuspidela inicial.

Certa feita, uma revista de Buenos Aires publicou um comentário sobre a ração alimentar dos argentinos, do século XVII:
Nas longas jornadas de Buenos Aires à Córdoba e Tucumán, os viajantes apenas se alimentavam com carne e cimarrón. Mesmo assim, esta simples alimentação faz nossos hermanos altos, delgados, rijos, vivos, inteligentes, batalhadores, valentes e laboriosos.

Quando Saint Hilaire passou pelo Rio Grande do Sul, em 22-09-1820, escreveu:
O uso dessa bebida (cimarrona), é geral aqui; toma-se ao levantar da cama e depois, várias vezes ao dia. A chaleira com água quente, está sempre ao fogo e logo que um estranho chega, se lhe oferecem o chimarrão.

Durante a Guerra do Paraguai, o Gal. Francisco da Rocha Calladoescreveu ao industrial David Antônio da Silva Carneiro:
Fui então, testemunha durante um período de 22 dias, de que nosso exército alimentava-se quase que exclusivamente da erva-mate que colhíamos no local e que, elaborávamos como podíamos, pois a falta de víveres não nos permitia longos repousos.

Amigos leitores!
No Rio Grande do Sul, a hospitalidade é uma constante, na vida do Gaúcho - e o chimarrão (quer no núcleo familiar ou entre amigos), desempenha a função de agregador, harmonizando através do calor humano, esta simples simbiose afetiva, pelo clima de respeito que florece por entre as chimarroneadas.

Chimarrão e cara alegre . . . o resto, a gente faz !

Paissano amigo!
Experimente despejar a mente, chimarroneando.






“Amargo doce que eu sorvo
num beijo em lábios de prata!
Tens o perfume da mata
molhada pelo sereno.
E a cuia, seio moreno
que passa de mão em mão,
traduz no meu chimarrão
em sua simplicidade,
a velha hospitalidade
da gente do meu rincão.” 

(Glaucus Saraiva)


A ERVA-MATE
A erva-mate é processada da planta chamada de ERVATEIRA, que em guarany se chama CAÁ (planta nativa da América do Sul).
Essa erva-mate, em guarany é chamada de CAÁ-JARI e é dela que se faz a infusão chamada de Caá-te - que é o nosso Chimarrão.
Uma erva-mate adulta possui a aparência de uma laranjeira; seu tronco de casca lisa e esbranquiçada, tem em média 30 centímetros de diâmetro, possuindo folhas perenes (não caem no inverno).
Sua estatura varia de 6 a 8 metros de altura, o tronco é reto, com muitos ramos alternados.
Uma ervateira nativa com mais de 6 anos, produz em média 100 Kg de matéria-prima por safra; quando cultivada, apresentando mais ou menos 3 metros de altura aos 4 anos, chega a fornecer de 90 a 180 Kg.
Segundo Fernando Assunção (escritor uruguaio),a primeira escrita referente ao consumo da erva-mate, foi a obra do padre Lozano, citando a Diego de Zeballos em seu “Tratado del reto Uso de la yerba del Paraguay”, Lima (Peru) - 1667.
No século passado, o naturalista francês Auguste de Saint Hilaire - em viagem pela América do Sul, esteve várias vezes no Brasil; quando regressou ao seu país, em 1823 entregou um Relatório destinado à Academia de Ciências do Instituto de França, propondo a designação da planta - de ILEX.

Na América do Sul, existem mais de 280 espécies, classificadas em 5 famílias:
Ilex gigantea (a mais alta)
Ilex guarany (a mais verde)
Ilex âmara (a mais amarga)
Ilex realis (a mais suave)
Ilex paraguariensis (a mais gostosa)

Em nosso Pago Gaúcho, pela Lei N º 7.439 (08-12-1980), foi instituída a ERVA-MATE Ilex paraguariensis, como a "Árvore Símbolo" do Rio Grande do Sul.


OS AVIOS DE CHIMARRÃO - (de mate)
A palavra AVIOS, é sempre empregada no plural, porque determina um conjunto de objetos, utensílios que são usados para um determinado fim.
Por exemplo - tem os AVIOS de pescar, os AVIOS de Farmácia (laboratório), etc.

AVIOS DE CHIMARRÃO:
Fundamentalmente, estes são CUIA e BOMBA - é claro que, outros objetos poderão incorporar estes avios, desde que passem a fazer parte deles (o recipiente para servir a água, o samburá, o porta-cuia, a chaleira).

A CUIA (em guarany cahí-guá), pode ser dos mais variados tamanhos e formas, com ou sem requifes, com ou sem retovos, entretanto, a cuia ideal é a pequena (com a capacidade de 3 ou 4 colheres de erva). Em quíchua (língua dos incas), chama-se mate. Em espanhol, chama-se vazo (pronuncia-se: BASSO), que traduzido quer dizer copo.
Em português, chamava-se cabaça - é feita de purús (porongo de parede fina), ou purungús de parede grossa).
Hoje, chama-se simplesmente - CUIA.

A BOMBA (em guarany taquapí - era feita de taquara), hoje é feita de metal e tem 4 (quatro) partes, à saber:
Haste - é o corpo da bomba.
Coador - é o apartador da bomba, a parte que vai no fundo da cuia e serve para coar.
Bocal - é a parte que se coloca na boca, para escorropichar e ressongar o chimarrão.
Resfriador - é uma pitanga (ou botão) que pode ter ou não na haste, que retém o calor, para não queimar os lábios do chimarrista.


CEVANDO O CHIMARRÃO
Coloca-se água pura na pava (chaleira, cambona ou chicolateira), para aquecer e dá-se de mão na cuia, colocando nela 2/3 de sua capacidade com uma boa erva da preferência.
Faz-se o topete (ou morrete) e quando a pava começar a chiar (estará com 62 º C), enche-se aquele espaço vago com a água que já estará tíbia (nem morna e nem quente); recosta-se a cuia no samburá para que a erva inche, cuidando-se de quando chegar o momento da pava trocar do chio fino para o chio grosso, pois aquela será a temperatura ideal para um bom chimarrão (74 º C).
Alguns, ainda, tem o hábito da tradicional cuspidela (cuspir o 1o chimarrão); já explicamos que isso é superstição guarany

Nenhum comentário:

Postar um comentário